O título desse texto, além de descambar para o mau gosto, é um aparente despropósito, porque subverte a lógica de que princesinhas, ao menos as dos contos de fadas que embalaram gerações de crianças e adolescentes, são mocinhas do bem, que nas estórias edulcolaradas sempre encontram um príncipe encantado para o beijo romântico e o final feliz para sempre.
O problema é que nestes tempos em que fadas dão lugar às bruxarias reais, princesinhas, ou melhor, adolescentes ainda na fase dos sonhos e das descobertas, trombam com a dura realidade.
Entre os tantos casos verificados em Itabuna ao longo do mês, retrato de uma realidade nacional, chamou a atenção de uma menina de 15 anos, detida pela polícia no bairro Santo Antônio, na periferia da cidade.
Em poder da adolescente, a polícia apreendeu quatro quilos e meio de pasta base de cocaína, um quilo de crack, duas pistolas, três revólveres. A droga renderia ao seu dono, que evidentemente não é a menina, cerca de 100 mil reais.
O que a menina provavelmente estava fazendo é o que centenas, talvez milhares de criancinhas e adolescentes, acabam fazendo: serem usadas como escudo pelo tráfico de drogas e de armas?
Afinal, que vai desconfiar que uma garota de 15 anos esconda em casa uma quantia considerável de drogas e um pequeno arsenal?
Pois, a polícia descobriu que escondia, como as estatísticas descobrem e revelam que cada vez mais nossos adolescentes não apenas estão mergulhando no uso de drogas, como também habitando o pântano do tráfico, que muitas vezes é um caminho sem volta.
A violência, em todos os seus níveis e a droga em especial, acabam roubando a infância de meninos e meninas que deveriam estar sonhando com o futuro, recebendo carinho, atenção e uma educação de qualidade, mas que, muitas vezes por absoluta falta de opções, orientação e estruturação familiar, acabam levadas precocemente para a criminalidade.
Nessa história, não há beijo que transforme sapo em príncipe.
Há sim, monstros sempre à espreita para devorá-las, protegidos pelo fantasma da omissão de quem deveria zelar e não zela por essas crianças e adolescentes.
*Daniel Thame é jornalista
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