A menina J., de 13 anos, que, segundo a polícia, observava relações sexuais entre a colega D., também de 13, e Cristiane Barreiras, de 33, contou ontem, em depoimento, que a professora costumava dar dinheiro à amiga quando elas saíam juntas. Entre esses passeios, estavam idas a motéis. Para se defender, a professora disse que a sociedade deve entender que entre ela e a adolescente D. havia um caso de amor e paixão.
J., que também era aluna da professora de Matemática, contou ao delegado Angelo Lages, da 33ª DP (Realengo), que foi duas vezes ao motel com a amiga e Cristiane. Os outros encontros teriam ocorrido no carro da professora. Perguntada se percebeu interesse da acusada em alguma outra menina da escola, que fica em Realengo, J. se calou.
“A menor disse que D. estava tentando terminar o relacionamento com a professora, mas que Cristiane não queria, chorava e pedia para que o romance não acabasse. J. contou que a amiga dizia sempre que havia ganho dinheiro da professora, mas não soube especificar a quantia”, contou o delegado.
Na manhã de ontem, horas antes de ser transferida para o presídio Bangu 8, Cristiane conversou com O DIA. Disse estar muito preocupada com sua família e com a ex-aluna.
“Estou preocupada com a menina, pois a mãe, alcoólatra, vai bater muito nela. Ela sofre agressões físicas e psicológicas. Nasci para ser professora. Amo minha profissão. O que aconteceu poderia ter acontecido com qualquer um. Eu me apaixonei. Aliás, nos apaixonamos. Pedi para a mãe dela consentir a relação. Não sinto vergonha dos meus sentimentos. Nesse momento, a minha família e meu marido, porque ainda estou casada, estão do meu lado”, afirmou a professora.
A mãe da aluna rebate as acusações: “Se ela desconfiava disso, deveria me denunciar ao conselho tutelar, e não levar minha filha a motel. No início do ano, ela me procurou, dizendo que queria ajudar minha filha, pois haveria uma prova. Ela, então, deixou o livro do mestre, com as respostas. Minha filha é criança, se apaixonou e está sofrendo”.
Autuada por estupro de vulnerável e corrupção de menor, Cristiane pode pegar pena de 15 a 30 anos de prisão.
Diretor poderá ser incriminado
O diretor do colégio municipal poderá responder pelos mesmos crimes que a professora. Ele será intimido hoje a prestar esclarecimentos na 33ª DP, o que deve ocorrer semana que vem.
“Caso fique constatado que ele tinha ciência da relação, ele poderá responder, sim, uma vez que sua profissão indica que ele deve cuidar das crianças. Se ele se omite, se iguala ao acusado do crime”, explicou o delegado. Donos e funcionários do motel frequentado por Cristiane e as menores também serão ouvidos.
O DIA teve acesso a uma ata de reunião entre a mãe de D. e o diretor. No documento, ele garantiu que iria afastar a professora e transferi-la para outra escola. A ata é assinada por funcionários que serviram de testemunha.
Quando a admiração vira paixão
O psicólogo Bernardo Jablonski, da PUC-Rio, diz que é comum o encantamento de alunos pelos professores, mas que, em alguns casos, o sentimento ultrapassa a mera admiração e se torna paixão.
“A autoridade que o professor exerce sobre o aluno pode ser um fator desencadeante de uma paixão. Em alguns casos, quando o adolescente é carente e não recebe atenção em casa, é mais comum”, analisa.
A Secretaria Municipal de Educação informou ontem que o diretor da escola onde estuda D. será chamado para prestar esclarecimentos na sindicância aberta em 9 de setembro. Ontem, a mãe da menor contou que esteve duas vezes no Conselho Tutelar para denunciar o caso.
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