Marival Guedes | marivalguedes@yahoo.com.br
Os brutos também choram. Leonelli, apesar de toda a brutalidade política, não conteve as lágrimas ao ouvir de um correligionário que aquilo era “armação”.
Começo pelo cenário político baiano na época: em abril o vice-governador Otto Alencar tomou posse substituindo César Borges, que renunciou para candidatar-se ao senado. Antônio Carlos Magalhães estava desempregado. Renunciou ao mandato por causa da sua estripulia no Senado, a fraude no painel de votação. Candidatou-se novamente.
O PSB lançou Itaberaba Lyra ao governo, Ruy Corrêa (Senado), Domingos Leonelli (deputado federal) e Lídice da Mata à reeleição na Assembléia Legislativa. Anthony Garotinho (PSB) era candidato à presidência da República e precisava de um palanque na Bahia, por isso entrou em contato com o presidente da legenda Domingos Leonelli.
O ASSALTO
Depois de combinar por telefone com Garotinho, Leonelli voou ao Rio para buscar a primeira parcela do dinheiro da campanha. No retorno, pegou seu carro, foi à casa de uma amiga com a pasta com o dinheiro debaixo do banco e, em seguida, para sua residência no Rio Vermelho. Lá estavam, dentre outras pessoas, a deputada Lídice da Mata e Geovan, do PSB de Vitória da Conquista. Quando acabou de entrar , um grupo invadiu a casa e anunciou o assalto, levando toda a grana.
Os brutos também choram. Leonelli, apesar de toda a brutalidade política, não conteve as lágrimas ao ouvir de um correligionário que aquilo era “armação”. A hipótese foi rechaçada pela direção do partido. Ele concedeu entrevistas e o fato foi noticiado pelos principais veículos de comunicação.
RESULTADO DAS ELEIÇÕES
Lula foi eleito presidente, Paulo Souto derrotou Jaques Wagner, Antônio Carlos e César Borges se elegeram, Lídice da Mata se reelegeu e Leonelli não conquistou a cadeira na Câmara. O advogado itabunense Ruy Corrêa obteve 85 mil votos, ficando em quinto lugar entre os nove candidatos ao senado.
QUESTÕES INTRIGANTES
Os ladrões nunca foram descobertos e alguns fatos chamaram a atenção. Por exemplo, eles entraram perguntando onde estava a pasta com o dinheiro. Logo após o assalto, Leonelli declarou nas entrevistas que a pasta tinha dez mil reais. Os jornais A Tarde eTribuna da Bahia e outros veículos publicaram esta versão. Mas o Correio da Bahiapublicou 190 mil. Chegou bem próximo. Na verdade havia 210 mil reais.
2002 foi um ano “quente” na política baiana. De março a setembro, houve um festival de grampos telefônicos clandestinos. O esquema era operado por pessoas da Secretaria de Segurança Pública. Foram grampeados 190 números de telefones dos desafetos de Antônio Carlos Magalhães.
Marival Guedes é jornalista