Dos males o menor. Em Ilhéus, operação abafa de estilo idêntico para defender da cassação o presidente Edvaldo Nascimento, o conhecido Dinho Gás, acusado de ter “metido os pés pelas mãos” em relação às finanças do legislativo. “FANTASMAS CONHECIDOS”
Câmara de Ilhéus
Uma simples verificação nas contas do legislativo ilheense no Tribunal de Contas dos Municípios, feita pelo vereador Paulo Carqueija (PT), identificou uma folha de pagamento de pessoal fora dos padrões, sem qualquer “amarração” com as leis que regem a contratação de pessoal, sejam do quadro funcional estável ou os conhecidos cargos de confiança.
A denúncia do vereador caiu como uma “bomba” e já se dava como “favas contadas” a cassação do mandato do vereador-presidente, pela gravidade que a denúncia representava. De novo, o presidente e alguns dos vereadores ligados ao grupo que representa se valem do singelo argumento utilizado anteriormente por Loiola, dando conta de uma retaliação à falta de intelectualidade de Dinho Gás. Quanta Pobreza de espírito!
“FANTASMINHAS CAMARADAS”
Após uma análise perfunctória dos nomes – que incluía até Regina Duarte, não a atriz –, se descobriu que os “fantasmas” eram conhecidos, ou melhor, poderiam ser chamados de “camaradas”, dada a proximidade com a família do presidente Dinho Gás. Mesmo com todas as evidências, as suspeitas recaíram sobre uma pessoal da confiança (será?) do presidente: o tesoureiro teria cometido um deslize e traído a confiança depositada, elaborando uma longa lista de pessoal, coisa acima de R$ 80 por mês, pagos com cheques do Legislativo.
Acuado, o tesoureiro acusou o irmão do presidente da Câmara de ter lhe passado a lista com os nomes das pessoas aquinhoadas com a amizade presidencial, que em troca seriam beneficiadas com parte da grana. Simples, não fosse a perspicácia do vereador Paulo Carqueija em cotejar todas as leis que criavam cargos e a folha de pagamento. Não deu outra, tinha “gato na tuba” do presidente Dinho.
AUDITORIA FAZ DE CONTA
Sem grandes novidades, o relatório da Comissão de Sindicância da Câmara de Ilhéus, como era de se esperar, mostra que realmente houve culpa, mas não do presidente e aponta para um “mordomo” para levar a culpa: José Ágdo Oliveira da Silva. Para o servidor não “botar a boca no mundo”, acrescentam outro participante do crime, o irmão do presidente Dinho Gás, João Nascimento, além do culpado mais notório: a imprensa.
Convém agora o presidente da Câmara de Ilhéus explicar o que fazia o seu irmão mandando e desmandando no âmago do legislativo, cometendo crimes contra o patrimônio público. Enquanto não se explica, providenciou o imediato afastamento dos quadros de cargos comissionados do “servidor culpado”, nada disse sobre os “fantasminhas camaradas” serem seus vizinhos (do presidente), e ainda deu o caso como encerrado. Resta agora manter o “espírito de corpo” para deixar tudo como está.
BOA NOTÍCIA A Comissão de Defesa do Consumidor aprovou esta semana o Projeto de Lei 7473/10, do deputado licenciado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), que obriga as empresas concessionárias de serviços públicos a devolver ao consumidor os valores referentes ao PIS e à Cofins repassados às suas tarifas. Pelo projeto, a obrigação se aplica às prestadoras dos serviços de telefonia, fixa ou móvel, de energia elétrica e de água e saneamento. Os valores devolvidos seriam atualizados monetariamente, pela taxa Selic, e ressarcidos em até seis parcelas mensais e consecutivas.
CONTAM POR AÍ…
Quando governador, Paulo Souto gostava passar os fins de semana na pacata Canavieiras, cidade em que podia circular livremente sem as constantes “aporrinhações” da vida política, com pessoas lhe parando nas ruas para pedir benesses, que vão desde o emprego para si e parentes até a construção de obras e serviços que trouxessem os benefícios, como costumeiramente precisava se esquivar, deixando esse mister para os assessores mais chegados, treinados para deixar importunar o governador.
Na maioria das vezes, entretanto, o governador teria de desembarcar em Ilhéus, por conta da falta de condições e segurança para pousar no aeroporto de Canavieiras. Nesses casos, o hoje aeroporto Jorge Amado era a solução. Só que, para o desespero de Paulo Souto, pessoa recatada, a chegada do avião do governador era um acontecimento, visto que também “era ilheense”, cidade que morou por muitos anos, estudando e trabalhando como radialista e geólogo.
Nesta época, o prefeito de Ilhéus, Jabes Ribeiro, conhecedor dos hábitos de Paulo Souto, alertou seus amigos que trabalhavam no aeroporto – desde os motoristas de táxis, carregadores e funcionários da Infraero – de avisá-lo imediatamente sobre a chegada do avião governamental. E os pedidos do prefeito eram consideradas ordens, não podiam deixar de ser cumpridas.
Às sextas-feiras, como eram de costume, os telefonemas disparavam para o Palácio Paranaguá: “O avião do governador está com previsão de aterrissagem para tantas horas”. Imediatamente, o prefeito se desincumbia dos seus afazeres, apressava as audiências concedidas para estar no aeroporto antes do avião aterrissar. Afinal, ficava bem receber o governador na porta do avião.
Não só pela gentileza demonstrada, mas era preciso também mostrar à população que desfrutava de grande prestígio junto ao governador. Era o máximo e, imediatamente os fotógrafos eram colocados a postos para flagrar os momentos mais importantes, o cumprimento ainda na pequena escada da aeronave. Enquanto os flashes pipocavam, os radialistas entravam “ao vivo” nas programações das emissoras para documentar a cena, revelando aos “queridos ouvintes” a preocupação do prefeito em receber o governador na intimidade, ocasiões mais do que propícias para numa conversa de “pé-de-orelha” tratar das reivindicações para Ilhéus.
Por mais que o governador Paulo Souto se esquivasse desses encontros nos fins de semana, a perspicácia de Jabes Ribeiro não permitia. “Espiões” a postos, não dava outra, assim que o piloto da governadoria preenchia o plano de voo em Salvador, os telefonemas disparavam e o prefeito se aprontava para a recepção semanal. Era a glória.
Num desses fins de semana, a agenda do governador era outra e sua passagem por Ilhéus tinha como finalidade apoiar outro candidato a prefeito para Ilhéus, o que seria decidido num lauto almoço na residência do então deputado federal Roland Lavigne. Desta vez – pensava o governador –, estaria livre para conversar sobre a política ilheense, pois, além de adversário político, seu anfitrião era considerado inimigo de Jabes. Enfim, a conversa seria longa, definitiva e bastante proveitosa.
Antes, porém tomou todas as precauções para desembarcar em Ilhéus longe dos olhares curiosos e vigilantes dos amigos do prefeito. Dito e feito, chega o avião, o governador desembarca e embarca num carro enviado por Roland Lavigne para conduzir Paulo Souto até sua residência. Como sempre, o serviço de informação municipal funcionou.
Sem perder a elegância, Jabes Ribeiro se dirige à residência de Roland Lavigne, toca a campainha, e como se convidado fosse, se apresenta para uma conversa institucional, republicana, como diriam os petistas. E a situação realmente permitia, pois estavam juntos nada menos do que o prefeito de Ilhéus, o governador da Bahia e o deputado federal por Ilhéus, Roland Lavigne.
Um whisky de entrada, vinhos durante o almoço e Jabes se desmanchava em gentilezas (fora das vistas dos eleitores) com o anfitrião e o governador, não permitindo que ambos discutissem a sucessão ilheense. Barrigas cheias – fome saciada, melhor dizendo – as visitas se despedem e cada um procura seu destino: Roland continua em casa, o governador se dirige a Canavieiras e Jabes desfila pelas ruas de Ilhéus de volta ao Palácio Paranaguá.
Moral da história: O político não dever perder a fleuma e considerar a oposição como adversária, apenas, e não inimiga.
fonte:ciadanoticia