“Levanta, Léo, oh meu filho! Ele tá vivo, me dá a mão dele, me dá a mão dele”. Eis o lamento ensandecido de uma mãe itabunense, cujo filho adolescente foi “abatido” por 15 tiros em pleno dia, no bairro Santa Inês. Infelizmente, não se trata de um caso isolado, mas de uma cruel constante na rotina de tantas e tantas famílias dessa terra.
Enquanto esse artigo começava a ser escrito, haviam se passado 223 dias do ano de 2012. Nesse período, foram computados 112 assassinatos. Isso representa média de um homicídio a cada dois dias! A maioria das vítimas, como todos sabem, é composta por adolescentes e jovens.
Do alto da sua imaginária “zona de conforto”, muitos se pegam dizendo: “só estão matando vagabundos”, numa referência aos dependentes químicos (doentes que perdem a batalha contra a tirania do vício em crack) e àqueles que encontram na venda dessa droga um meio de ganhar dinheiro facilmente.
Mas é dado a algum ser humano o direito de decidir sobre a vida – e a morte – de outro ser? Simplesmente matar virou a solução? Quem garante que as centenas de mortos não teriam um futuro diferente, caso lhes fosse dada alguma oportunidade que não o caminho do uso e/ou tráfico de entorpecentes?
Onde estão as tais políticas públicas de cunho social? Cadê a bonita proposta do tal Pronasci (Programa Nacional de Segurança com Cidadania)? Tudo muito louvável, porém, até então, apenas no plano da teoria. Na prática, só morte e mais morte. Choro e mais choro.
Aliás, pensando estar protegidos em nosso “lugarzinho quente”, repetimos: “só morre quem está no lugar e na hora errados”. Ok. Mas onde fica o lugar certo para fugir de uma bala perdida, se pessoas estão sendo atingidas até dentro de igrejas, como aconteceu no domingo, dia 12 de agosto, no bairro de Fátima? Qual seria a hora segura, se tem gente sendo alvo de tiros até pela manhã, em plena avenida Juracy Magalhães, uma das vias mais movimentadas do centro de Itabuna?
Há muito tempo se fala em implantar, nos bairros mais perigosos da cidade, as chamadas Bases Comunitárias de Segurança. Tal medida certamente evitaria atitudes audaciosas de bandidos, como ordenar o fechamento de escolas, quando eles querem trocar tiros com seus rivais.
Para derrubar o reino de impunidade que aqui impera, apesar do esforço, muitas vezes sobre-humano, das polícias Civil e Militar, também se anunciou a instalação de uma Delegacia de Homicídios. O setor se dedicaria exclusivamente à função de investigar e punir assassinos.
Essas providências, no entanto, ainda são saíram do campo das promessas do nosso “ilustre” governador Jacques Wagner. Porque é inegável que a referida delegacia ainda não dispõe de estrutura adequada para funcionar. As tais bases, no Rio de Janeiro conhecidas como UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), por aqui não passam de lenda.
(Parágrafo acrescentado de última hora, por força da “metralhadora” dos fatos). O terror não tem trégua. Na noite de terça-feira, um homem, supostamente viciado na maldita “pedra”, era assassinado no bairro São Caetano. Horas depois, 15 bandidos encapuzados, trajando coletes à prova de balas, ditaram o clima de pavor no Corbiniano Freire. Invadiram casas, passando-se por policiais, jogaram gasolina e atiraram para todo lado. O intuito era caçar rivais do tráfico. Resultado: uma menina de quatro anos foi covardemente executada dentro de seu lar, enquanto dormia. E Itabuna acaba de chegar ao insuportável patamar de 114 assassinatos neste ano.
O cidadão itabunense, que tem medo de se sentar num bar ao ar livre para tomar uma cerveja, também teme antes de visitar um amigo num bairro periférico e pensa duas vezes antes de respeitar um sinal vermelho à noite. Está, em suma, vendo ameaçado o seu Constitucional – e legítimo – direito de ir e vir. E agora? É uma situação irremediável?
Ainda que pareça tolo e abstrato, cabe indagar: quantos mais precisarão ser executados para que uma providência eficaz seja tomada? Quantas mães precisarão ser massacradas pela dor de ver invertida a “lógica” de que os filhos enterram os pais?
Parafraseando Caetano Veloso, quando escreveu que “o Haiti é aqui”, numa alusão à desigualdade social brasileira, nos resta dizer que a guerra é lá na Síria, mas “o bangue-bangue é aqui”. E isso é, sob todos os aspectos, lamentável, revoltante, assustador.
Celina Santos é chefe de redação do Diário Bahia e, no caso em questão, apenas mais uma cidadã indignada com o caos ditado pela violência em Itabuna.
Parabens a autora deste texto, é lamentável tudo isso acontecendo e nada sendo feito ...aos olhos dos homens do poder que deveriam está preocupados com tantas violência e nada fazem. A minha pergunta ficará sempre sem respostas,será que os filhos "deles" tambem um dia não poderão passar por tudo que passa as mães desses jovens que ocupam a área dos desiguldados?
ResponderExcluirconcordo em genero numero e grau, infelismente estamos aquem do poder público e além das instancias federais do assistencialismo, nossa cidade está sendo devorada como uma carniça pobre nas mãos de um bando de abutres que nos envergonham a cada dia
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