As cadeias deveriam servir para ressocializar e, se a realidade tivesse alguma consideração pelas leis, os egressos do sistema penal seriam sujeitos melhores do que no momento em que se tornaram clientes das penitenciárias. Mas o costume é ver os ex-detentos voltarem a cometer crimes, visto que a maioria dos presídios funciona como um depósito de seres humanos, onde se deixa de lado esta condição e o tratamento é o que seria bem indicado a bestas-feras.
Se cumprissem sua função, as prisões poderiam ser importantes na vida de muitas pessoas que, pelos descaminhos da vida, vieram a cometer algum delito. Para elas, a pena serviria de fato como um momento de refletir e se arrepender, de aprender uma profissão, de sentir falta da família e reconhecer o seu valor.
Como menosprezam o papel de recuperar, as cadeias se tornaram lugares malditos, reservados aos que são vistos como “párias” da sociedade, os indesejáveis, os excluídos. É nas celas que estes são simplesmente separados do mundo, não para se ressocializar, mas para livrar os demais de sua presença.
É só pesquisar em um bairro periférico para ver quantas famílias têm pelo menos um de seus membros encarcerado. Na periferia, isso é até normal, fala-se com naturalidade sobre o assunto, alguns lamentam, mas quase ninguém se constrange. Infelizmente, a miséria também provoca esse conformismo com o infortúnio, mas a sensibilidade é maior entre os clientes eventuais e esporádicos da Casa de Dete (um dos apelidos da Casa de Detenção).
Não é à toa o rebu que se deu quando um professor de Direito em Itabuna ilustrou sua aula com exemplo infeliz, no qual citou, inadvertidamente, a estada do pai de uma aluna, hoje vereador, em uma das celas do Complexo Penitenciário de Bangu, isto em passado já longínquo. O professor não sabia que o político era pai de sua pupila e se viu numa saia justa daquelas, as coisas esquentaram e já se fala que o vereador opera para que o autor da menção desonrosa perca o emprego na faculdade.
À filha, melhor seria admitir o vetusto deslize paterno e afirmar com toda altivez que o genitor já pagou o que devia à sociedade e hoje é um cidadão recuperado, que cumpre seus deveres e está plenamente reintegrado à sociedade. Mas a jovem, sabe-se lá por que, preferiu atacar o professor, que pode não ter sido feliz no exemplo, mas também não faltou com a verdade. E esta pode até doer, mas não vale nada quando fica escondida.
Ricardo Ribeiro é um dos blogueiros do Pimenta e também escreve no Política Et Cetera.
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