Faz-se necessário esclarecer antes de tecer qualquer comentário sobre a transferência do frei José Raimundo, pároco da Santa Rita de Cássia, no próximo mês, que
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não privo de sua intimidade, que não faço parte de nenhum grupo religioso, que não faço parte de nenhuma comissão pastoral, de nenhum ministério, que não trabalho nessa igreja e não tenho parentes nem aderentes que lá trabalhem, portanto, sou livre para externar a minha opinião sobre sua transferência para Porto Seguro. Eu sou apenas, um simples católico (não sou beato), como tantos outros, que aos Domingos e noutros dias religiosos, eu vou à missa agradecer a Deus por ter me concedido mais alguns dias de vida, que aumente a minha fé para que ela não seja sucumbida pelas adversidades e circunstâncias do dia a dia. Toda mudança é sofrida, por isto, quero levar-lhe a minha solidariedade, dizer-lhe que entre os seus paroquianos, muitos vêem sua mudança não como um cumprimento regimental de sua Ordem ou uma necessidade premente, mas como um ato ardiloso e político dos seus desafetos e daqueles que têm ojeriza e despeito do seu trabalho e do seu compromisso com a verdade. A mudança numa instituição é salutar, a mudança traz novas idéias, a mudança oxigena as cabeças, desde que essa mudança seja motivada e esteja embasada em princípios democráticos, que todos os membros dessa instituição sejam ouvidos, não por injunções urdidas nos bastidores ao gosto e sabor do grupo dominante, não quero dar, aqui, uma de Lutero, porque me faltam autoridade e suporte intelectual, mas urge a necessidade da nossa Igreja Católica fazer reavaliação em alguns dos seus conceitos obsoletos e normas tradicionais antes que perca mais espaço para igrejas congêneres na fé. O católico, hoje, é consciente de sua fé, não possui o perfil ignorante e ingênuo do tempo de Canudos de Antônio Conselheiro, menos ainda, do período das indulgências, das inquisições ou da “Divina Comédia” de Alighieri. O tempo dos beatos e beatas, pouco e pouco, está desaparecendo... O católico atual exige uma igreja dinâmica, interativa, compartilhada, renovada, engajada, uma igreja que se preocupe com o espiritual, mas sem perder de vista as dificuldades temporais do homem, não uma igreja intocável, fechada, apolítica, distante e indiferente. Os adversários do frei José Raimundo acusam-no de intratável, de misturar sua paróquia às lides políticas, de usar o púlpito de sua igreja para promover a eleição dos seus candidatos, ignorando o sentimento de alguns religiosos avessos à política e aos políticos. Entende-se que é justo respeitar a posição pessoal desses fiéis, principalmente, aqueles de cabelos encanecidos, premiados pela longevidade e mentes não renovadas... Por outro lado, não é justo que um líder religioso seja omisso e distante dos problemas de sua comunidade, talvez, lhe faltou vocação diplomática para conciliar as idéias do passado com as necessidades atuais, aí, sobrevieram-lhe o desgaste, a antipatia e a conspiração rasteira... No Século V, a.C., Aristóteles sustentava que “o homem é um animal político”, portanto, faz-se imprescindível ao exercício da cidadania, as políticas públicas para que não falte ao homem: saúde, moradia, educação, segurança, transporte, saneamento básico e tantas outras ações políticas necessárias à existência humana. No cotidiano frei José Raimundo é uma pessoa sociável, cordata, de fino trato. Nunca o vi esboçar qualquer gesto grosseiro na relação diária com os fiéis de sua paróquia. Todavia, muitos não aceitam um “não”, essas pessoas acham que o sacerdote é desprovido de vontade, sempre tem que dizer “sim”, mesmo com o argumento contundente de impossibilidade ou de inconveniência. Não se pode negar o trabalho, a ética, a organização e o esforço missionário e evangelizador desse homem à frente da paróquia Santa Rita de Cássia. É prazeroso visitar as dependências de sua igreja: estacionamento sinalizado, jardim, salas de reunião, sala de informática, secretaria informatizada, tudo limpo, tudo pintado, tudo iluminado (ele recebeu a igreja quase às escuras), o cumprimento celetista dos funcionários em dia, organização contábil, boletins informativos do dízimo, cumprimento dos festejos religiosos e a criação de jornal e site paroquianos, afora a campanha de reciclagem do lixo e os mutirões de saúde e prestação de serviço que atendem todos os anos milhares de pessoas e outras ações sociais. Se alguém alegar que as atividades administrativas são de somenos importância em relação às atividades espirituais, responder-se-ia com as ações espirituais: a “missa dos homens”, os missionários de Jonas, a formação religiosa dos jovens etc., etc. Não se deve confundir firmeza de atitude com mal-educado, grosseiro, destemperado, colérico, pois Jesus Cristo, também, teve atitudes firmes, necessárias, a exemplo de expulsar os vendedores que fizeram do templo de Deus, antro de comércio e perdição: “Então Jesus entrou no templo, expulsou todos os que ali vendiam e compravam, e derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas...” (Mateus 21-12), ou, quando enfrentou os olhares de censura de escribas e fariseus ao encontro de Zaqueu: “E quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima, viu-o e disse-lhe: “Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convém pousar em tua casa...” (Lucas, Cap 19, 1-6). A pretensão precípua deste texto, é dizer ao frei José Raimundo que a maioria dos seus paroquianos lastima sua remoção, mesmo os seus opositores reconhecem seu trabalho, seu dinamismo, seu desejo de justiça, sua preocupação com os pobres e sua luta pela democratização e efetivação das políticas comunitárias.
Prezado senhor, ao ler a noticia acima me venho a memoria as andanças do Frei Raimundo em Aracaju, na igreja dos Capucinos, do Bairro América. O Frei realmente e um homem empreendedor que para muitos que lhe conhecem tem errado sua vocação. O Frei Raimundo tem vocação para política sem dúvida! Em Aracaju promoveu e apoio a implantação da Policia Comunitária da mão do secretario da SSP na época, Wellington Mangueira, do governo Albano Franco. No bairro América, a Polícia Comunitária chegou a ser exemplo. Mas, no devemos esquecer que quem mandava na Polícia Comunitária era o Frei. Os demais bairros passavam necessidade. O Frei recebia as melhores viaturas, os melhores homens e tudo aquilo que tinha de melhor, o resto recebia as sobras. Com o tempo veio o desgaste e o Frei Raimundo teve que ser transferido para outro local a pedido da própria comunidade que não aceitava mais as bravatas e as andanças do Frei. O Frei e uma pessoa problemática, mas: uma coisa e certa: ele gosta de trabalhar!
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