Cyro de Mattos *
A cultura é como a atmosfera. Não se vê, nem se pega, mas precisamos dela para sobreviver. Cultura é uma rede de significados que dão sentido ao mundo. A religião, a culinária, o vestuário, o mobiliário, as formas de habitação, os hábitos à mesa, as cerimônias, o modo de relacionar-se com os mais velhos e os mais jovens, com os animais e com a terra, os utensílios, as técnicas, as instituições sociais (como a família) e políticas (como o Estado), os costumes diante da morte, a guerra, o trabalho, as ciências, a Filosofia, as artes, os jogos, as festas, os tribunais, as relações amorosas, as diferenças sexuais e étnicas, tudo isso constitui a Cultura como invenção da relação dos seres humanos com o Outro. E o Outro é a natureza.
Um povo sem cultura é frágil, nem sequer sabe defender o espaço em que sobrevive, já que não percebe de onde veio e para onde vai. Vive à deriva. Ou como gado humano. Como estabelece a Constituição Federal, a cultura é um direito fundamental, importante vetor de desenvolvimento econômico, valioso exercício de cidadania para a inclusão social. É caminho que salva vidas, retira as pessoas das zonas do risco, tornando digna nossa existência em convívio com os outros.
Cultura é tudo que o homem simboliza diante da vida. Tudo que o ser humano inventa para humanizar a natureza é cultura. Os imediatistas não pensam a vida dessa maneira porque só a concebem através da produção dos meios materiais. Cultura para esses não é base do equilíbrio social, meio para combater a pobreza. Não é essencial. Confundem-na com pura distração, curtição, futilidade, ornamento. Desperdício. Para eles, a vida é produção e troca de valores materiais, empreendimento e lucro. Isso basta, é tudo.
A miopia política com relação à cultura é de uma incompetência total. Quando um bem imaterial de natureza cultural interfere no programa de certos políticos, eles bradam que o principal é criar condições melhores de vida. O progresso deve triunfar sempre quando o impasse para isso seja o bem cultural. O progresso deve seguir adiante em sua marcha indiferente às tradições e manifestações artísticas e culturais. Não importa que o progresso esteja demolindo a alma histórico-cultural de um povo, o que é muito grave.
Para esse tipo de postura, o Museu Jorge Amado no antigo distrito de Ferradas, hoje bairro do município de Itabuna, no sul da Bahia, por exemplo, não conta, não dá retorno eleitoreiro. Mesmo que o custo dessa obra importante, de reconhecimento justo ao consagrado romancista mundial, nascido em Ferradas, embora tardio, também de alcance comunitário, atualmente seja de 600 mil reais. Mesmo que seja um espaço criativo e dinâmico em sintonia com a memória, a história e a educação da comunidade. Mesmo que seja um espaço que irá interagir com a sociedade, através de oficinas culturais, artísticas e profissionalizantes, que pretendem desenvolver ações para a sobrevivência e tirar o indivíduo da zona do risco e inutilidade.
Um museu desse teor valoriza a autoestima, funcionando como um centro de memória, um espaço que sem dúvida irá propiciar qualidade de vida.. Pretende contribuir para que as pessoas sejam capazes de distinguir entre o bom e o ruim, o ético e o demagogo, a verdade e a mentira. Isso fere as prioridades do contexto político alimentado por visões pessoais equivocadas. Contraria a ideologia do poder pelo poder, que professa ter voz alta aqueles que têm as rédeas da vida no rigor de atitude que comanda.
No meu livro “Agudo Mundo”, ainda inédito, o poema “Pátria Amada”, parodiando os célebres versos de Gonçalves Dias, procura dizer do homem exilado em sua condição social. Leia o poema.
Pátria Amada – Minha terra // Tem palmeiras // Onde canta o sabiá.// Um grito heróico // Sedento de droga // Rola os dias nos dias. // Triunfante na fome // Corrompe no planalto, // Com orgulho e amor // Gorjeia o engodo // Do usual demagogo // Que adora me eleger // Gado humano no lixo. // Forte e varonil // Em farto convívio // Repica no exílio // O gesto do barraco. // Com um olho no pão // E o outro na televisão,
*Escritor premiado no Brasil e exterior. Da Academia de Letras da Bahia, Academia de Letras de Ilhéus e Academia de Letras de Itabuna (Alita).
A cultura é como a atmosfera. Não se vê, nem se pega, mas precisamos dela para sobreviver. Cultura é uma rede de significados que dão sentido ao mundo. A religião, a culinária, o vestuário, o mobiliário, as formas de habitação, os hábitos à mesa, as cerimônias, o modo de relacionar-se com os mais velhos e os mais jovens, com os animais e com a terra, os utensílios, as técnicas, as instituições sociais (como a família) e políticas (como o Estado), os costumes diante da morte, a guerra, o trabalho, as ciências, a Filosofia, as artes, os jogos, as festas, os tribunais, as relações amorosas, as diferenças sexuais e étnicas, tudo isso constitui a Cultura como invenção da relação dos seres humanos com o Outro. E o Outro é a natureza.
Um povo sem cultura é frágil, nem sequer sabe defender o espaço em que sobrevive, já que não percebe de onde veio e para onde vai. Vive à deriva. Ou como gado humano. Como estabelece a Constituição Federal, a cultura é um direito fundamental, importante vetor de desenvolvimento econômico, valioso exercício de cidadania para a inclusão social. É caminho que salva vidas, retira as pessoas das zonas do risco, tornando digna nossa existência em convívio com os outros.
Cultura é tudo que o homem simboliza diante da vida. Tudo que o ser humano inventa para humanizar a natureza é cultura. Os imediatistas não pensam a vida dessa maneira porque só a concebem através da produção dos meios materiais. Cultura para esses não é base do equilíbrio social, meio para combater a pobreza. Não é essencial. Confundem-na com pura distração, curtição, futilidade, ornamento. Desperdício. Para eles, a vida é produção e troca de valores materiais, empreendimento e lucro. Isso basta, é tudo.
A miopia política com relação à cultura é de uma incompetência total. Quando um bem imaterial de natureza cultural interfere no programa de certos políticos, eles bradam que o principal é criar condições melhores de vida. O progresso deve triunfar sempre quando o impasse para isso seja o bem cultural. O progresso deve seguir adiante em sua marcha indiferente às tradições e manifestações artísticas e culturais. Não importa que o progresso esteja demolindo a alma histórico-cultural de um povo, o que é muito grave.
Para esse tipo de postura, o Museu Jorge Amado no antigo distrito de Ferradas, hoje bairro do município de Itabuna, no sul da Bahia, por exemplo, não conta, não dá retorno eleitoreiro. Mesmo que o custo dessa obra importante, de reconhecimento justo ao consagrado romancista mundial, nascido em Ferradas, embora tardio, também de alcance comunitário, atualmente seja de 600 mil reais. Mesmo que seja um espaço criativo e dinâmico em sintonia com a memória, a história e a educação da comunidade. Mesmo que seja um espaço que irá interagir com a sociedade, através de oficinas culturais, artísticas e profissionalizantes, que pretendem desenvolver ações para a sobrevivência e tirar o indivíduo da zona do risco e inutilidade.
Um museu desse teor valoriza a autoestima, funcionando como um centro de memória, um espaço que sem dúvida irá propiciar qualidade de vida.. Pretende contribuir para que as pessoas sejam capazes de distinguir entre o bom e o ruim, o ético e o demagogo, a verdade e a mentira. Isso fere as prioridades do contexto político alimentado por visões pessoais equivocadas. Contraria a ideologia do poder pelo poder, que professa ter voz alta aqueles que têm as rédeas da vida no rigor de atitude que comanda.
No meu livro “Agudo Mundo”, ainda inédito, o poema “Pátria Amada”, parodiando os célebres versos de Gonçalves Dias, procura dizer do homem exilado em sua condição social. Leia o poema.
Pátria Amada – Minha terra // Tem palmeiras // Onde canta o sabiá.// Um grito heróico // Sedento de droga // Rola os dias nos dias. // Triunfante na fome // Corrompe no planalto, // Com orgulho e amor // Gorjeia o engodo // Do usual demagogo // Que adora me eleger // Gado humano no lixo. // Forte e varonil // Em farto convívio // Repica no exílio // O gesto do barraco. // Com um olho no pão // E o outro na televisão,
*Escritor premiado no Brasil e exterior. Da Academia de Letras da Bahia, Academia de Letras de Ilhéus e Academia de Letras de Itabuna (Alita).
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