Daniel Thame
Denisson estava na porta da escola, quando dois homens se aproximaram em uma moto e um deles deflagrou quatro tiros que atingiram o estudante na perna direita, abdome, braço esquerdo e nas costas. O jovem, que cursava a oitava série, morreu na hora.
“Não, José Denisson não era apenas um estudante e sim um jovem envolvido com o tráfico de drogas, que morreu numa guerra pela disputa dos pontos de venda”, bradaram os simplistas, reverberando o noticiário policial, quase que com o alivio de que há um marginal a menos em circulação.
Mas não é tão simples assim.
José Denisson era apenas um estudante, jovem da periferia paupérrima de Ilhéus que se mudou para a periferia paupérrima de Itabuna.
O consumo de drogas foi o caminho natural de uma existência em meio a grandes dificuldades e nenhuma perspectiva de futuro.
Um perfil que se encaixa perfeitamente no padrão de crianças e adolescentes que são recrutados pelos traficantes.
De consumidor, ele passou a vendedor de drogas.
Um desses inúmeros soldadinhos do tráfico, que comercializam pequenas quantidades em portas de escolas e bares, ganhando um dinheirinho que mal dá pra sustentar o próprio vício.
E que de tão abundantes no, digamos, mercado, acabam se tornando absolutamente descartáveis, visto que não faltam peças de reposição.
José Denisson foi apenas mais uma peça descartada nessa engrenagem macabra, em que o tráfico encurta a vida de milhares de jovens e adolescentes.
No momento em que José Denisson deixou de ser apenas estudante para se tornar estudante e soldadinho do tráfico, selou o próprio destino.
Morreu como morrem tantos e tantos soldadinhos, tombados numa guerra que quase sempre só atinge a parte de baixo do submundo das drogas.
É lícito supor que se existissem políticas públicas de inclusão de jovens e adolescentes, José Denisson não estaria na porta do colégio, onde encontrou a morte, mas na sala de aula, onde poderia encontrar um futuro melhor.
Inúteis perorações, verborragia pura, diante de um corpo estendido no chão, diante dos colegas de escola, testemunhas de uma lição de violência cotidiana que assusta, mas que não se faz absolutamente nada para evitar.
Não foram apenas quatro tiros que mataram José José Denisson.
Foi também uma arma letal que atende pelo nome de omissão.
Daniel Thame é jornalista, blogueiro e autor do recém-lançado Vassoura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário