"Adote o seu filho, antes que um traficante o faça"
Um jovem de 17 anos morto na porta da escola. Quatro tiros. Não era necessariamente um estudante, mas alguém que estava ali disputando espaço para venda de drogas. Morreu na guerra do tráfico, do crack, que tantas vítimas invisíveis têm feito em Itabuna.
Ouço o rádio no dia seguinte ao crime. Reflexões sobre a violência crescente, a juventude que se perde, a epidemia do crack. Um taxista é entrevistado e defende a ditadura, pena de morte. Fala-se da violência como se ela fosse um fantasma, como se as causas não estivessem ligadas diretamente ao modo de vida da própria sociedade, como se fosse uma elocubração de algum inferno longínquo e não do inferno em que muitos têm transformado as próprias vidas, as próprias casas…
Pais imaturos, inseguros, incompetentes para a responsabilidade de colocar um ser humano no mundo e prepará-lo para o mundo. Pais que não ensinam valores, não orientam, não dão exemplo e não percebem a lenta e progressiva deformação do caráter dos filhos, consequência direta de uma criação absurda.
O crime e o crack não são fantasmas nem surgem do nada. São produtos diretos do que nossa sociedade tem feito ou deixado de fazer. De uma sociedade que idolatra o consumo, o imediato, a futilidade e não pensa no que virá depois. Culpa-se a falta de emprego e oportunidades, mas não é isso. É na família corrompida e deformada que está a raiz de todo o mal.
O tráfico movimenta bilhões de dólares, incentiva a guerrilha e controla os países, principalmente os mais pobres e os que estão mais desestabilizados. Deve-se examinar com mais atenção certas atitudes simplistas que reduzem o problema a uma questão individual, ignorando a complexidade do tema. Os estragos feitos pelo narcotráfico é de uma dimensão incalculável. Gastos públicos com o tratamento de saúde, o custo social, desemprego, brigas, mortes, destruição familiar, o vírus HIV entre usuários de drogas injetáveis, o aumento da violência. É a extensão do crime organizado a todas as esferas da sociedade. Diante da gravidade do sistema das drogas, imprescindível se compartilhar as responsabilidades, pois nenhum país é capaz de impedir sua expansão sem a colaboração de todos. Os traficantes são conhecedores de que se alcança, mais facilmente, o viciado na fase da adolescência e da pré-adolescência e estão levando as crianças para o mundo das drogas. É quando se deve dar maior destaque a um programa de caráter educativo preventivo. Portanto, o quanto antes iniciarmos a conscientização, não estaremos cometendo exagero algum.
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