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segunda-feira, 20 de junho de 2011

PIMENTA NA MUQUECA DAS ACADEMIAS

ACADÊMICOS COM PRODUÇÃO LITERÁRIA NULA

Ousarme Citoaian
Academias de letras – que Itabuna está criando no atacado – sempre foram objeto de polêmica e abrigo de vaidades. Inspirada na Académie Française au Fil desLettres (literalmente: Academia Francesa ao Fio das Letras), a Academia Brasileira de Letras foi muitas vezes questionada, ao longo dos seus mais de cem anos, devido a nomes que permitiu assentarem-se para o chá das cinco. Lá estiveram, por exemplo, o ex-ditador e presidente Getúlio Vargas (Cadeira nº 37) e o general da ditadura militar Aurélio de Lira Tavares (foto), cuja produção literária não existe publicada ou inédita (na 20). Em tempos mais recentes, José Sarney, aquele, de questionados poemas cívicos, abancou-se na Cadeira 38.

LAMBANÇA DA ACADEMIA BOMBA NA INTERNET

Mas o estoque de lambanças (termo, convenhamos, nada acadêmico) da Academia não se esgota facilmente: nas comemorações dos 110 anos de nascimento do confrade José Lins do Rego, e sob a “justificativa” de que o escritor era Flamengo, a ABL achou de dar a Medalha Machado de Assis ao jogador Ronaldinho. Na internet, para usar outra expressão alheia ao chá das cinco, o mico bombou. E, por último, entre um jornalista de viés conservador e preconceituoso (Merval Pereira) e um escritor de verdade, o baiano Antônio Torres (autor de Um táxi para Viena d´Áustria, dentre outros romances), a ABL escolheu o primeiro. Depois de Sarney, Aurélio e Getúlio, Merval (um panfletário da direta) lhe cai muito bem.

ACADEMIAS ESQUECERAM O “FIO DAS LETRAS”

Resta dizer, retomando o assunto regional, que academia de letras parece hoje coisa tão contemporânea quanto a anágua, o chapéu palheta, o cabriolé e o sapato de duas cores. Em outras palavras, uma aspiração demodée, arcaica, que não agita o meio em que se insere, não muda em nada o panorama cultural da região. Assim é com a Academia de Letras de Ilhéus (que teve seu ápice nos tempos de Abel Pereira e um pouco com Adonias Filho), hoje decadente em suas funções. As de Itabuna, se seguirem o modelo viciado (o erro fatal de ceder a outras atividades o espaço da literatura) serão natimortas. Investir no fil des lettres sugerido pelos franceses é o desafio que nossos sodalícios têm a enfrentar.

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