Ricardo Ribeiro | ricardoribeiro@pimentanamuqueca.com.br

Valdelice Amaral foi presa por ser uma espécie de Jorgina de Freitas das selvas.

Centro de uma disputa entre índios e produtores rurais, a cidade de Ilhéus assistiu na última semana a uma operação da Polícia Federal que levou à prisão da cacique Valdelice Amaral, da tribo tupinambá de Olivença. Na verdade, ela cumpre recolhimento domiciliar, já que foi alegada fragilidade de sua saúde.

O crime cometido pela cacique não tem a ver com a disputa pelos 47 mil hectares que, além de Ilhéus, pode tirar um bom pedaço de terra dos municípios de Una e Buerarema. Este conflito tem mobilizado atenções dos governos da Bahia e federal, que receiam uma guerra entre indígenas e proprietários rurais. Recentemente, houve confronto na área conhecida como Jairi, onde tupinambás estariam cobrando pedágio de areeiros. Um índio, de facão em punho, foi pra cima de um policial e acabou levando um tiro na perna. O clima é tenso.

Valdelice Amaral, entretanto, não foi presa por causa dessa disputa, mas sim por ser uma espécie de Jorgina de Freitas das selvas. Segundo investigação da Polícia Federal, que contou com o apoio do setor de inteligência do Ministério da Previdência Social, Valdelice faz parte de uma quadrilha que falsificava documentos e inseria dados fictícios nos computadores do INSS, a fim de viabilizar benefícios indevidos de auxílio-doença e pensão por morte. Uma maracutaia que subtraiu cerca de R$ 500 mil da seguridade.

Informações dão conta de que a índia também cometia fraudes em contratos do Programa Nacional de Apoio à Agricultura Familiar (Pronaf), além de ser ela a coordenadora do esquema de pedágio na região do Jairi.

Os que negam aos tupinambás de Olivença a condição de índios “autênticos” devem estar se regozijando. Muitos devem ter dito: “onde já se viu índio corrupto?”. Pois tem e o homem branco não pode se queixar, pois a corrupção da cacique é a prova cabal de que o índio está em avançado processo de integração à nossa sociedade.

Nas terras reivindicadas pelos índios em Olivença, existe índio advogado, blogueiro, cinegrafista. E tem também índio malandro e corrupto, igualzinho à selva de pedra. Isso não lhes tira a condição de índio, mas confirma o quanto seus costumes se contaminaram com a influência do colonizador e surpreende apenas aos que ainda permanecem aferrados à ideia do bom selvagem.

Ricardo Ribeiro é um dos blogueiros do Pimenta na Muqueca e também escreve no Política Et Cetera.