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quinta-feira, 2 de agosto de 2012

UM CANDIDATO A PREFEITO EM 107 CIDADES


Na cidade de Iaçu na Chapada Diamantina, na região do semi árido baiano, o candidato da oposição à prefeito Maurilo Ramos Sobrinho ( Macarrão ) PSD, teve impugnado o registro de candidatura pela justiça eleitoral e não poderá concorrer as eleições de 2012, deixando assim o caminho livre para o candidato Nixon (PMDB) que não contará com adversários.



Entre 15.309 candidatos a prefeito nas eleições de 2012, Fábio Fonseca (PDT) está num miúdo grupo de fazer inveja aos demais. Pode se gabar de contar apenas com o próprio voto. É que se apenas ele digitar seu número na urna, será eleito prefeito de Igaratinga (MG). O motivo é simples: ninguém, além dele mesmo, se lançou ao cargo na cidade de 9,2 mil habitantes. Em igual situação, outros 105 políticos têm a garantia ou o privilégio, este ano, de ganhar por falta de oponentes ou, como se diz no jargão esportivo, no “WO”.

Os candidatos-solo não terão concorrentes por diferentes motivos. Nomes da oposição não tiveram apoio do próprio partido, negociaram alianças em futuras eleições ou cargos no governo, deixaram os preparativos para a última hora e até pelo simples receio de uma derrota anunciada em pesquisas.

Sem poder pedir votos, parte dos opositores aos candidatos únicos adotou outra estratégia para boicotá-los. Incentivam a população a votar nulo ou branco, espalhando que é uma forma de anular as eleições. Mas o anúncio da possível nulidade do pleito é equivocado.

De acordo com a legislação, vence as eleições quem obtém a maioria dos votos válidos (50% mais um). Num cenário com apenas um candidato, qualquer quantidade de votos é suficiente. Se o postulante à prefeitura receber o apoio de apenas um eleitor, terá 100% dos votos válidos. Só há uma possibilidade de nova disputa: caso a Justiça eleitoral anule os votos do único concorrente por infrações à legislação, como compra de votos.

Das acirradas disputas nas corridas municipais, a população de Igaratinga vive agora uma calmaria eleitoral que, longe de alívio, é recebida com um bocado de desconfiança. Mesmo quem declara voto em Fábio Fonseca “até se houvesse outro candidato” se confunde e diz que preferia ter mais opção no pleito.

— Ah, votar, eu ia votar no Fábio mesmo. Mas bem que queria uma disputa. Nem parece que vai ter eleição! — observa o aposentado Antônio Henrique da Silva, de 72, anos.

Com o sorriso da vitória, o prefeito também garante que gostaria de ter um concorrente, mas não esconde que terá vida, inclusive financeira, mais tranquila do que candidatos que se engalfinham em cidades vizinhas. Apesar de ter os dois pés na prefeitura por mais quatro anos, Fonseca diz que vai fazer campanha e tem justificativa para ir ao eleitor:

— Se eu for eleito com poucos votos, não terei credibilidade junto à população para fazer uma boa gestão e para ir aos governos estadual e federal para pedir recursos para a cidade.

O pedido por voto sairá mais barato do que previa até o início do mês, quando ainda achava que teria um concorrente. De R$ 150 mil, sua previsão de gasto recuou para R$ 50 mil. Por lá, os opositores desistiram do pleito após obterem má colocação em pesquisas. Ironicamente, o maior opositor do prefeito que não tem concorrentes nas urnas é um vereador do próprio partido.

— Vou fazer campanha só se for para ele perder. Se não conseguir mais da metade dos votos, está fora. Ele acabou com a educação da cidade — reclama Ademar Pinto de Faria (PDT).

O prefeito diz que a “implicância” de Faria é fruto de divergência pessoal, já que não teria entrado num rateio para que o vereador pudesse levar mais convidados a sua diplomação.

Município gaúcho não tem disputa desde 2000

Em Mato Queimado, no noroeste do Rio Grande do Sul, município com apenas 16 anos de existência, nunca houve uma disputa eleitoral para a prefeitura. Desde 2000, ano da sua primeira eleição municipal, os eleitores locais não tiveram a oportunidade de escolher entre um ou outro candidato.

O prefeito Orcelei Dalla Barba, do PMDB, explica que a cidade tem um modelo político singular, já que são as lideranças políticas dos quatro partidos locais (PT, PMDB, PTB e PP) que decidem quem vai governar.

A cidade também nunca contou com candidato de oposição na disputa pelas nove cadeiras da Câmara Municipal. As vagas para a Câmara dos Vereadores sempre são disputadas sob uma coligação única, com a participação dos quatro partidos. O prefeito da cidade, Orcelei Dalla Barba, explica que o processo de escolha do candidato único está aberto à população e que a participação do eleitorado é considerada boa. Em 2008, apenas 8% dos eleitores deixaram de votar, enquanto 10% votaram nulo ou em branco.

— Esta já é a quarta eleição que acontece de maneira consensual, sem rivalidade política, com respeito mútuo entre os partidos e comparecimento dos nossos eleitores às urnas — disse o prefeito.

Outra cidade já acostumada com a falta de disputa é Caibi (SC), onde pela terceira vez verá apenas uma foto nas urnas eletrônicas. Depois de oito anos como vice-prefeito, Dilair Menin (PT) disputa a prefeitura do município de 6,2 mil habitantes com a certeza da vitória:

— Em cidade pequena, as eleições são muito acirradas. Os ânimos ficam exaltados. Então, é até bom não ter concorrente. Mas não deixarei de fazer campanha. Aqui é regra: tem de bater de casa em casa e tomar chimarrão com a família para que não se sinta desprestigiada.


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