Osias Lopes | osiaslopes@ig.com.br

Uma campanha eleitoral sempre significa muito e muita coisa que não somente o ponto alto da democracia, a liberdade de escolha de governantes, mas, fundamentalmente, se traduz no elevado gesto da sociedade tomando para si a o comando dos seus desígnios, ao seu modo e ao seu tempo.

É certo que uma campanha eleitoral vista por dentro tem menos colorido. Por vezes, parece negar-se à sua própria finalidade, tamanhas são as batalhas travadas em suas entranhas por egos altamente inflamados, os quais, quando não domados ao tempo e ao modo, quase sempre a levam à indesejada derrota. Nada a estranhar, pois, como declama Roberto Carlos em sua canção “somos seres humanos, só queremos a vida mais linda, não somos perfeitos, ainda” (música Seres Humanos).

Vi e vivi situações várias ao longo das campanhas eleitorais realizadas em Itabuna que pude acompanhar. Lembro-me quando ainda na pré-adolescência ouvia o “pisa na fulô” de Alcântara; assisti à vitória do histórico MDB em Itabuna com a eleição de José Oduque (eu e alguns colegas do turno noturno “filávamos” aulas para assistir aos comícios), com direito a comemoração ao som do marcante trio elétrico Tapajós “Caetanave” (isto em 1972!).

Na campanha posterior, escutei as avançadas propostas e proposições do inesquecível Mário Padre (meu primeiro voto para prefeito) em comícios com estrutura moderna onde se fazia uso até de projetores, numa didática cidadã para além daqueles tempos.

A minha estréia em campanha eleitoral como integrante de sua estrutura foi como assessor jurídico em 1986 (eleições proporcionais), passando pelas campanhas municipais de 1988 (Amilton Gomes candidato a prefeito e Norma Vídero a vice), 1992 (Ubaldo Dantas candidato a prefeito), 1996 (Renato Costa, então PMDB, candidato a prefeito indicado pelo PT), 2000 (Geraldo Simões, candidato a prefeito e Ubaldo Dantas a vice), 2004 (Geraldo Simões candidato à reeleição de prefeito).

Laborei também nas campanhas das chamadas eleições gerais, que intercalavam e intercalam as municipais. Sempre participei dessas jornadas imbuído de puro idealismo, confiante nas propostas, ideias e ideais nelas defendidas.

Como se vê, foram muitos os ilustres personagens que desfilaram nessas hodiernas e indeléveis passarelas democráticas grapiúnas: Ubaldo Dantas, Geraldo Simões, Renato Costa, Juçara Feitosa, Waldir Pires, João Otávio de Oliveira Macedo, Emanoel Acilino, dentre outros não menos importantes. Cada campanha formava sua própria história, única, com suas estórias e tudo o mais.

Nesses desfiles de seres humanos se exibiam tudo: virtudes e defeitos, amálgamas normais de uma jornada democrática, sempre trabalhosa, mas compensadora às liberdades.

Também delas participaram outros tantos personagens, digamos assim, menos nobres em seus propósitos, mentores e autores desatinados de críticas e atitudes depreciativas, buscando atingir – seja por inveja ou por exercício de espírito emulativo, sempre aqueles que efetivamente mourejavam movidos pelos ideais democráticos. Semeavam a desunião e a desagregação, sem nada produzirem de positivo.

Ao fim e ao cabo, o fato é que Itabuna tem uma história de grandes embates políticos que justificam sua pujança e vocação cosmopolita – mas tão cosmopolita que tem até aqueles inhenhos que a ela chegam e logo se imaginam, ainda que descabida e inopinadamente, como parte de sua história! E as campanhas eleitorais desenvolvidas em Itabuna contam isto, como diz João Gilberto em sua canção, “tin tin por tin tin”!

Osias Lopes é advogado e ex-procurador dos municípios de Ilhéus e Itabuna.