Geraldo Simões negou ter pedido cabeça de jornalista na bandeja da Bamin
O deputado federal Geraldo Simões (PT) concedeu entrevista à sua emissora, a Rádio Difusora, e pela primeira vez falou sobre o suposto pedido feito por ele à Bahia Mineração (Bamin) para que demitisse o assessor de comunicação, Ricardo Ribeiro, aqui do PIMENTA.
No programa Cacá Ferreira, o parlamentar insistiu em negar que tenha feito o pedido, embora a assessores o deputado tenham falado que o fez no momento em que consumia bebida alcoólica e que “voltaria atrás” (confira mais abaixo). Na entrevista, o parlamentar disse ter feito a “descoberta” de que o jornalista trabalhou no governo municipal e acusou Ricardo Ribeiro de ser “caneta paga” de opositores, para criticá-lo.
O deputado ainda afirmou que foi ele quem deu o primeiro emprego ao jornalista ao contratá-lo para a assessoria de comunicação, em 2001, quando assumiu a prefeitura de Itabuna. Sarcástico e destilando arrogância, Geraldo disse que Ricardo aprendeu a escrever na prefeitura.
O parlamentar ameaçou interpelar o jornalista para provar que foi ele quem pediu sua demissão. Também afirmou que, seguindo conselho de um advogado, avalia entrar com ação por difamação.
O blog teve acesso a mensagens de texto, trocadas por celular entre o jornalista e um diretor da Bamin, que confirmam o pedido feito pelo deputado à empresa.
“TRABALHO COM ISENÇÃO E ÉTICA”
Ricardo Ribeiro rebateu o argumento do deputado, que o acusa de estar a serviço de adversários, e lembra que quando participou do governo municipal, entre 2009 e 2010, decidiu afastar-se do blog, fato que é confirmado por Davidson Samuel, também do PIMENTA. “O blog tem postura crítica ao governo. Eu não misturo as coisas e nunca coloquei o blog a serviço de assessoria de imprensa, prova disso é que o PIMENTA continua independente e criticando a administração municipal quando ela merece ser criticada”, ressalta Ricardo.
Quanto à afirmação de Geraldo de ter sido a prefeitura o primeiro emprego do jornalista, Ricardo lembra que o convite para participar do governo de Geraldo, no período 2001 a 2004, partiu do jornalista Daniel Thame.
- Tive grandes colegas na Assessoria de Comunicação, a exemplo de Cláudio Rodrigues, Daniel Thame, Maurício Maron e Antônio Lopes, mas meu primeiro emprego foi no Jornal Agora, onde trabalhei com Joel Filho, Vera Rabelo, José Adervan, entre outros, e de fato aprendi os primeiros passos da profissão . Nunca pedi emprego ou qualquer outra coisa a Geraldo Simões. Fui convidado a trabalhar na assessoria por Daniel Thame, e foi por mérito e não por apadrinhamento. A indicação foi técnica, porque Daniel conhecia e conhece meu trabalho – assinala Ricardo, que também foi editor do programa Jornal das Sete, da Morena FM, antes de integrar a assessoria.
CRONOLOGIA
A ligação do deputado Geraldo Simões para pedir a cabeça do jornalista foi feita no sábado, 14. O parlamentar telefonou para Armando Santos, do Conselho da Presidência da Bamin. Este acionou o diretor de Relações Institucionais da empresa, Frederico Souza.
O diretor de Relações Institucionais da Bamin, então, ligou para o jornalista na noite de sábado e perguntou se Ricardo conhecia Geraldo e se tinha alguma coisa contra o deputado. Geraldo disse ao diretor Armando Santos que o assessor de comunicação passava “24h do dia” batendo nele e no PT de Itabuna.
Logo após receber a ligação, Ricardo enviou mensagem a Frederico afirmando ter entendido o porquê do pedido do deputado. A razão foi um artigo em que defendia o direito do PCdoB de ter candidatura própria em Itabuna e criticava a “arrogância do PT” de Itabuna.
Ricardo enviou mensagem ao diretor de Relações Institucionais e disse que iria pedir desligamento para não causar constrangimentos à empresa. Frederico respondeu-lhe que não era necessário chegar a esse ponto, pois as coisas seriam contornadas. “Diante da resposta, fui trabalhar na segunda-feira, mas à noite eu recebi a ligação da gerência de comunicação em Ilhéus, informando sobre o desligamento”.
O jornalista disse que não gostaria de envolver o nome da empresa e que o centro de todo o problema está no ato de perseguição do deputado. “A empresa está em momento de fragilidade e que fica sensível a pedidos como este. Não vou julgar a empresa, porque o mais grave nessa história é o ato grotesco de perseguição promovido pelo senhor Geraldo Simões”, afirma.