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domingo, 12 de fevereiro de 2012

RICOS SÃO OS MAIORES CALOTEIROS NO BRASIL

Passar em um concurso público mudou a vida de João Silva*. De um simples advogado, ganhou status de juiz federal e elevou a sua renda mensal de R$ 2 mil para R$ 24 mil. Mais do que aumentar o saldo na conta-corrente, Silva passou a viver um estilo de vida insustentável. Alugou um apartamento luxuoso no Sudoeste, região nobre do Distrito Federal, por R$ 3 mil mensais. Começou a frequentar e a realizar festas caras e comprou um carro, uma Mercedes Benz, por R$ 120 mil, financiada em 72 vezes. Gastou o que podia e o que não podia por meio de cartões de crédito.
Durante pouco mais de um ano, o juiz ostentou uma vida de milionário. Mas a fatura começou a mostrar o seu peso. Para honrar todos os compromissos em dia, Silva tomou três empréstimos com desconto em folha de pagamento (consignado). Recorreu ao limite de R$ 30 mil do cheque especial. Passou a sacar dinheiro no cartão de crédito a juros de quase 15% ao mês. Finalmente, chegou o momento em que não tinha mais de onde tirar dinheiro. Começou, então, a atrasar o pagamento de dívidas. Até que a concessionária que lhe vendeu a Mercedes encaminhou o nome dele para o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Foi um transtorno danado. Por lei, um juiz não pode constar na lista de caloteiros.
Silva é um dos milhões de brasileiros de alta renda que se endividaram pesadamente e surfaram na onda do crédito farto dos últimos anos. Muitos, como ele, vieram de famílias humildes ou da tradicional classe média. Por meio de um concurso público ou mesmo pela dedicação de anos e anos de estudo que permitiram a conquista de um posto de trabalho com alta remuneração na iniciativa privada, passaram a fazer parte do que se convencionou chamar de novos-ricos. São eles, por sinal, os que comandam a escalada dos empréstimos e financiamentos no Brasil a um ritmo de 20% ao ano e os que mais impulsionam a inadimplência.
Dados da Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional de Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), apontam que, nos 12 meses encerrados em janeiro, enquanto o índice de famílias endividadas com renda inferior a 10 salários mínimos (R$ 6.220) recuou de 61,3% para 59,5%, nos lares com rendimentos acima de 10 salários mínimos disparou de 48,9% para 53,4%. Entre os mais abastados, as dívidas estão, em média, 63,1 dias atrasadas contra os 62,8 dias dos que têm ganhos menores. "Temos um retrato muito interessante no país, hoje. A nova classe média, que se esbaldou com o crédito fácil, botou o pé no freio. Já os ricos estão gastando além da conta e criando uma bolha preocupante de inadimplência", diz Felipe Chad, sócio da Corretora DX Investimentos, especializada em finanças pessoais.
Levantamento do Banco Central reforça a percepção de Chad. As dívidas acima de R$ 50 mil são as que mais crescem no país. Em 12 meses até novembro do ano passado, tais operações avançaram 36%. Passaram de R$ 203,5 bilhões para R$ 276,7 bilhões. "Parte desse público engrossa a nova classe A, que antes não tinha tantos recursos e agora tem um fluxo de caixa elevado para gastar. Em Brasília, tornou-se um quadro comum entre os recém-aprovados em concurso público ostentar dívidas que crescem como bola de neve", ressalta Chad.

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