Pois bem, diário, as coisas não caminharam conforme planejei. Aliás, hoje, os 12 Apóstolos da Operação Salvador sem Carnaval estamos a caminho do nosso Apocalipse. Atribuo minhas dores, de um lado, às frágeis estratégias que traçamos e, de outro, à participação diabólica da Rede Globo (ai, se eu te pego, Patrícia Poeta!). E, por falar em poeta, senti falta, em tudo que li acerca dos acontecimentos que pautaram a mídia nos últimos 12 dias (maldito 12!!), de uma análise minimamente romântica acerca do gesto do general Gonçalves Dias (quer maior prova de sentimento poético, diário?), comandante da Sexta Região Militar, que, pasmemo-nos, foi afastado do comando da operação criada para reprimir-nos. Comeu do nosso bolo e, para os que estávamos nas adjacências, foi possível ouvir três sonoros arrotos, prova cabal de que gostara. Ora, em que pese estivéssemos em campos opostos, isso jamais poderia ser óbice a um gesto de humanidade, ainda que advindo de uma patente como aquela. O general é maior que todos. E, se ele quiser, será uma honra tê-lo em nosso quadro de apóstolos. Como diria seu xará maranhense, “a vida é luta renhida, viver é lutar! A vida é combate que os fracos abate, mas que aos fortes e bravos só deve exaltar!”.

Ainda sofro, diário, as consequências daqueles infames abarás. Mal posso me sentar. Já amaldiçoe até a quarta geração as mãos que puseram aquela pimenta malagueta em doses cavalares para meu consumo. O fato de eu ser um líder, o maior de todos, o Rei do Nilo, não me torna proprietário de um intestino de ferro, ora essa! A mídia vem dizendo, diário, que nossa investida nos últimos 12 dias (maldito 12!) resultou num prejuízo de, aproximadamente, 400 milhões ao comércio baiano. Eu fico impressionado com a matemática desse povo! Não houve prejuízo. Houve redução de demanda. Só. Pra mim, prejuízo é outra coisa. Comer abará com 3 colhes de sopa de pimenta, isso sim gera um tremendo prejuízo.

Tardiamente, nossos companheiros do Rio entravam em greve. E houve quem dissesse que, por seu turno, vão procurar fazer tudo diferente do que fizemos, já que aprenderam com nossos erros. Legal isso, né, diário? Deixam a gente à míngua e são capazes de capitalizar em cima de nossos erros. Carioca é esperto mesmo, hein? Vou à casinha, diário. Nos últimos 12 dias (maldito 12!) só fiz isso mesmo: m(*).

Luiz Cláudio Sena é filósofo

Texto publicado orignalmente no Blog do Fábio Sena.