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sábado, 3 de dezembro de 2011

DO OUTRO LADO DO MURO DA PRISÃO


São mais de 880 presos, incluindo mulheres, na Colônia Penal de Itabuna, no sul da Bahia, a 460 km de Salvador. Os internos, que aguardam julgamento ou já cumprem pena pelos mais variados crimes, se tornam excluídos da sociedade através de um muro. Contudo, apesar das celas, cerca elétrica e cães, eles se deparam com uma esperança: o projeto “Ressocializar”.

O programa com o apoio ainda informal do governo do estado, SEBRAE, entre outros órgãos e empresas privadas, tem como objetivo ensinar aos encarcerados a arte da pintura em tecido e cerâmica, artesanato com piaçava e informática. Este projeto, na avaliação dos idealizadores, é importante para os prisioneiros perceberem que é possível escolher uma nova vida e voltar para o meio social pronto para o trabalho.

Entre os dias 9 e 13 de novembro, o diretor geral do presídio, Capitão Mascarenhas, a diretora adjunta Lucia Beltrão, a terapeuta ocupacional Camila Nascimento e o professor de informática Gutemberg Lima, acompanhados de toda equipe, apresentaram pelo quarto ano o resultado das oficinas realizadas ao longo de 2011.

Em anos anteriores, no início do projeto era oferecido um coquetel para membros da sociedade organizada e representantes dos poderes Legislativo e Executivo do município. Entretanto, pela falta de prestígio, não atingindo o objetivo desejado, a direção do presídio nesse ano convidou apenas a imprensa. A informação colhida nesta reportagem deixa transparecer uma “discriminação” com a arte produzida pelos internos.

As peças foram expostas no Shopping Jequitibá, que cedeu o espaço, chamando a atenção de milhares de pessoas por vários motivos: beleza, preço e peculiaridade em cada objeto. Entre as peças produzidas pelos presos, uma mesa feita toda de piaçava custava cerca de R$ 1.200,00. Várias cerâmicas, em torno de R$ 45,00. Segundo a direção, quanto mais trabalhado for o produto à venda, maior é o valor.

Dinheiro

De acordo com Lúcia Beltrão, o dinheiro das vendas é depositado no RCR (Centro de Registro e Cadastro) no coração do presídio, onde fica todo o histórico dos internos. “Cada criador de uma peça dessas fica na expectativa da venda, pois esse dinheiro é depositado na conta dele para fazer o que ele quiser”, informa.

A diretora adjunta esclareceu ainda que apenas R$ 100,00 é permitido permanecer depositado. Em caso de um valor maior, o preso decide a quem entregar: à esposa ou qualquer outro parente. “Com esse dinheiro eles fazem uma lista dos produtos básicos a serem comprados como, por exemplo, material de higiene pessoal e biscoitos”, explica.

Redução de pena

Conforme a terapeuta Camila Nascimento, a cada três dias trabalhados, um dia é reduzido na pena do acusado. Além disso, eles têm como passatempo o serviço realizado. “Esse ano temos 20 internos que trabalham diretamente com a arte, seja no pátio ou na tranca”, exemplifica.

A terapeuta ainda ressalta um fator crucial para a continuidade do projeto Ressocializar. “Eles chegam à unidade de uma forma e se descobrem durante as aulas, percebendo que podem sair da prisão e mudar de vida”, diz.

Resultados

Todos os envolvidos na ressocialização desses homens e mulheres se emocionam quando recordam os bons resultados registrados durante esses quatro anos. Cerca de 200 alunos já passaram pelas salas de aulas do estado e municipal do presídio; 23 alunos fizeram as provas do Enem, sendo que um deles passou no vestibular e está em fase de conclusão do curso superior, além dos 30 certificados oferecidos por méritos aos novos técnicos de informática.

Entre uma pergunta e outra, aparece para apreciar as peças expostas um ex-detento. Réu Confesso, de 35 anos, pai de três filhos, é como vamos identificar nosso personagem de forma fictícia. Ele teme aparecer e perder o emprego.

O ex-aluno do projeto aproveitou o horário de almoço para rever os seus professores e concedeu essa entrevista exclusiva. Perguntei para ele como é está do outro lado do muro. “Eu agradeço muito a esses professores, passei por cada etapa desse projeto, fico feliz em ser um pioneiro”, se emociona.

Questionado quais os crimes que cometeu, ele é enfático. “Dois 157 (assalto a mão armada).

Para o Réu confesso que passou 2 longos anos preso, estar do lado de fora trabalhando e sustentando a família de cabeça erguida, não tem preço e nem retorno ao mundo do crime. “Eu tive que viver naquele lugar para ver a realidade da vida”, conclui.

De acordo com o diretor da unidade prisional, Capitão Mascarenhas, a cada ano as vendas são melhores e o avanço dos presos em salas de aula é comprovado. “Queremos ampliar o Ressocializar, para isso estamos buscando apoios do estado e município”, justifica.

Fonte:Oziel Aragão do Radar Notícias

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