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sábado, 22 de outubro de 2011

ENTREVISTA COM WENCESLAU JÚNIOR

O PCdoB é independente e terá candidato próprio

O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) dispensa a condição de coadjuvante e pretende ser a estrela principal da eleição em diversas cidades brasileiras. Em Itabuna não é diferente, e o vereador e suplente de deputado estadual, Wenceslau Júnior participa da disputa interna do partido com Davidson Magalhães pela vaga de candidato a prefeito na convenção do próximo ano. Líder forjado nas lutas estudantis e nos movimentos populares, Wenceslau afirma que se preparou durante todo esse tempo para chefiar o Executivo itabunense. Advogado e professor de Direito, Wenceslau Júnior tem dois desafios: convencer “os camaradas” de que é o nome viável para vencer a eleição, bem como negociar uma ampla coligação com outros partidos. Ele também faz críticas aos prefeitos anteriores, que não privilegiaram o planejamento e diz que o seu partido vem demonstrando maturidade suficiente nas cidades em que administra. E manda um recado: O PCdoB terá candidato próprio e se o PT quiser que venha fazer parte da coligação. “Já apoiamos o PT por três vezes, agora chegou a vez dos petistas nos apoiar”, disse durante à entrevista concedida ao jornalista Walmir Rosário.

Jornal Agora – A candidatura do PCdoB é para valer mesmo, ou se trata de uma estratégia para conseguir cargo na chapa adversária?

Wenceslau Júnior – Definitivamente. O PCdoB tem feito avaliações e, levando em consideração ao acúmulo de forças que o partido vem somando sucessivamente nas eleições em que tem participado, entende que se credenciou a viabilizar uma candidatura com ampla possibilidade de fazer uma disputa com condições reais de vitória em Itabuna.

J. A. – O partido ainda não escolheu que nome lançar, mas o seu é considerado um dos prováveis, junto com o de Davidson Magalhães. Como se dará essa escolha?

W. J. – Não temos tradição em realizar prévias para a escolha de candidaturas. O PCdoB trabalha dentro da análise da realidade, observando o potencial eleitoral, a capacidade de articulação política que possa viabilizar o projeto. Portanto, estão postos meu nome e o de Davidson Magalhães, mas posso garantir que não há uma disputa interna em torno disso, ao contrário, existe uma unidade em torno do projeto e a depender do cenário da época da escolha, o nome adequado ao momento será escolhido.

J. A. – Notícias veiculadas na mídia dão conta de que o PCdoB estaria sofrendo uma pressão muito grande, para não concorrer com candidatura própria à Prefeitura de Itabuna e apoiar o candidato do PT. O partido conseguirá ficar imune às pressões e caminhar num “voo solo”?

W. J. – Essas notícias de que o PCdoB vem sofrendo pressões para apoiar outros partidos, inclusive o PT, não são verdadeiras, pelo contrário. Nas conversas que tivemos com o governador Jaques Wagner e com as lideranças do PT, em nenhum momento fizeram qualquer tipo de consideração a esse respeito, até porque o próprio PT ainda tem dificuldades políticas em função do nome apresentado como candidato a prefeito de Itabuna. Nós entendemos que o PCdoB é um partido que está na base do governo de Dilma Rousseff e do governador Jaques Wagner, e que tem autonomia para participar, enquanto legenda, de qualquer eleição com candidatura própria ou até apoiar candidatura de outro partido que não seja o do PT, desde que essa candidatura esteja presente nas bases de qualquer um dos dois governos.

J. A. – Pelo que deixou a entender, o PT estaria em condições desfavoráveis para enfrentar uma eleição à Prefeitura de Itabuna?

W. J. – Em Itabuna existe uma análise negativa sobre a viabilidade da candidatura do PT, cujo índice de rejeição é muito grande, enquanto o nível de aceitação não é considerado dos melhores. Pelos cenários possíveis de se vislumbrar, os eleitores estão em busca de um novo nome, uma nova proposta de administração, uma nova forma de governar a cidade. Pelas pesquisas, a população demonstra uma rejeição muito grande nos dois modelos conhecidos: o que está presente (administração do Capitão Azevedo) e nos que por aqui já passaram (Geraldo Simões e Fernando Gomes).

No caso do PT, o partido já teve a oportunidade de governar a cidade por duas vezes, e ao que parece não deixou saudades, pois, em nenhum momento das pesquisas se apresenta como sendo uma novidade. O eleitor não demonstra aprovação pelo modelo apresentado anteriormente e nem mesmo acredita que poderá realizar alguma mudança significativa. Portanto, é uma relação desfavorável, do ponto de vista do eleitor, que somada à dificuldade que o próprio PT tem em agregar forças políticas amplas em torno de um projeto para Itabuna.

J. A. – Diante de sua argumentação apoiar o PT não faz parte da estratégia, mas…e se o PT quiser fazer parte da chapa liderada pelo PCdoB…existe essa possibilidade?

W. J. – Claro, já apoiamos o PT em Itabuna em três eleições, inclusive em duas delas indicando o candidato a vice-prefeito, então não vejo alguma dificuldade para que os petistas venham apoiar uma candidatura dos seus parceiros comunistas. Ainda mais quando a candidatura do PCdoB se apresenta viável em relação às composições de nomes, e os compromissos deverão ser mais coletivizados. Tenho participado exaustivamente de reuniões com outros partidos, a exemplo do PDT (Partido Democrático Trabalhista), do PSC (Partido Social Cristão) e PRB (Partido Republicano Brasileiro), que junto com o PCdoB formam um grupo de quatro partidos, com fortes tendências de ampliação, esboçam a composição de uma frente política para a discussão de um projeto e um programa de governo unitário para propor essa candidatura. Nossas conversas têm progredindo bastante e a tendência é formarmos essa unidade política.

J. A. – Além desses partidos, quais ainda podem participar dessas negociações de um projeto conjunto?

W. J. – Nosso diálogo também está bastante avançado com o PMDB [Partido do Movimento Democrático Brasileiro], o PP [Partido Progressista], o PPS [Partido Popular Socialista], o PSDB [Partido da Social Democracia Brasileira], que apesar de não participar das bases de Dilma Rousseff e Jaques Wagner, localmente tem nomes e respeito e compromisso com a cidade, além do PSB (Partido Socialista Brasileiro). Nesta eleição, o processo eleitoral tem que ser municipalizado, pois a cidade de Itabuna precisa ser resgatada, reconstruída e será necessária a conjugação de esforços de todos os políticos e partidos compromissados com Itabuna e não com seus projetos pessoais, como temos visto ao longo dos anos.

J. A. – O PCdoB é visto como um partido ideológico, defendendo posições radicais. Mas, com o passar do tempo essas posições foram se abrandando, tanto é assim que hoje os comunistas formam blocos com partidos nem tão ideologicamente posicionados. O que mudou?

W. J. – Em Itabuna, os partidos de esquerda da história recente somente dirigiram a prefeitura por duas oportunidades, e foi com o PT. Na primeira delas foi aquele fenômeno eleitoral proporcionado pelo atual clima político brasileiro através do movimento “Fora Collor”, com aquele clamor por mudança, em 1992, quando construiu uma frente ampla composta por nove partidos. Na segunda, inclusive com o PSDB, que à época tinha uma posição ideológica também contrária ao nosso campo, mas que apresentou o nome de Ubaldo Dantas para compor a chapa como vice-prefeito. O nosso entendimento é que, aqui em Itabuna, quem consegue aglutinar mais, quem atrai o centro da luta política para sua frente é que consegue ganhar a eleição. Além de ganhar a eleição, também é preciso manter essa aliança para governar. Então, nós sempre mantivemos nossa ideologia, nossos propósitos e projetos de formação social, mas entendemos que a política de alianças é fundamental para qualquer projeto político.

J. A. – O PCdoB tem um posicionamento crítico aberto às últimas administrações de Itabuna. Quais são os grandes problemas da cidade?

W. J. – Infelizmente, Itabuna não tem se projetado para o futuro. Não teve e nem possui um planejamento capaz de gerar projetos de curto, médio e longo prazo. Não conseguimos resolver nossos problemas, a exemplo do passivo ambiental absurdo, com 100% do esgoto coletado despejado no rio Cachoeira sem qualquer tipo de tratamento; um lixão que envergonha nossa cidade em pleno século 21, se tornando impossível que as pessoas convivam daquela forma subumana; a carne que consumimos é oriunda daquele velho matadouro, sem as condições sanitárias ideais; um sistema de trânsito caótico; bairros sem infraestrutura, sem pavimentação, saneamento, iluminação. Falta a cultura de planejamento e da fiscalização para não deixarmos que os novos bairros sofram do mesmo mal. Então, a cada dia os problemas de Itabuna são ampliados por absoluta inércia e irresponsabilidade da máquina municipal na gestão urbanística.

J. A. – Itabuna, que sempre foi considerada referência em saúde passa por problemas insolúveis nessa área, e que hoje discute se a administração do Hospital de Base deve ficar no município ou entregá-la ao governo do estado.

W. J. – Hoje, da forma que está aí, sem o município assumir sua gestão, é melhor que seja entregue ao governo do estado. Agora, se o gestor municipal quiser colocar saúde como prioridade e quiser administrar o hospital, tem que colocar recursos do município no Hospital de Base, o que é perfeitamente possível. O que soa estranho é que o município não coloque o dinheiro necessário, queira que o governo do estado coloque o dinheiro e continue praticando uma gestão temerária, como está sendo feita.

J. A. – Apesar dos avanços, a educação em Itabuna é motivo de constantes problemas e constatações, a exemplo da queda de compreensão do aluno, que passa de ano mesmo sem estar preparado. Como o PCdoB vai tratar esta questão?

W. J. – Nós temos um dos melhores programas de educação sendo desenvolvido em Aracaju (capital de Sergipe), com um índice alto de aprovação do modelo praticado, que tem como princípio básico a valorização profissional, pois o professor não pode continuar ganhando um salário que não permita a ele ter uma vida digna e condições de se aperfeiçoar e crescer como ser humano e cidadão. Também é preciso mudar essa concepção de escola, remodelando-a, para que possa voltar a ser um lugar prazeroso, onde o estudante possa ter acesso não só ao ensino formal, mas ao lazer, à cultura, ao esporte, tudo isso amparado por modernos recursos de tecnologia que facilitem o aprendizado. Não é possível que com os recursos que temos hoje, a exemplo de internet, teleconferências, os alunos continuem ali na base do ‘cuspe e giz’. Para isso, temos que capacitar os professores e melhorar as instalações das escolas, tudo isso calcado num projeto pedagógico consistente. Então, ficamos no meio do caminho, entre a escola grapiúna e o modelo tradicional, o que demonstra que precisamos definir qual o modelo pedagógico a implantar e ganhar os educadores para fazer esse processo de aprendizagem, que leva em consideração não apenas e tão somente os índices, mas a qualidade da educação a ser dada aos alunos.

J. A. – O PCdoB e você, particularmente, encamparam a luta pela implantação da sede da Universidade Federal do Sul da Bahia (Ufesba) em Itabuna. Já está definido o local a ser instalada a Reitoria e quais os cursos?

W. J. – Particularmente, eu defendo que possamos prestigiar o nosso conterrâneo Jorge Amado, que estaria completando 100 anos caso ainda estivesse entre nós. Jorge nasceu em Ferradas, hoje bairro de Itabuna, e nunca houve nem há uma valorização dessa relação da cidade com ele. E a sede da Ufesba tem tudo para ser implantada naquele local, pois o Plano Diretor de Itabuna aponta que a cidade tem de crescer para aquele lado, existem áreas disponíveis e seria a oportunidade de inserirmos Ferradas no contexto socioeconômico de Itabuna.

Agora, do ponto de vista dos cursos que poderão ser ministrados aqui, poderemos preencher lacunas importantes. Não é admissível que uma região como a nossa, que é um berço cultural, não existam cursos de artes plásticas, música, dança, dentre outros que envolvam todas as expressões culturais. Também temos necessidade de implantar cursos nas áreas da engenharia, o que representará uma inovação tecnológica, apesar da criação de quatro cursos pela Uesc. Temos aqui a maior faixa litorânea – mais de mil quilômetros de praia – e nenhum curso de engenharia de pesca e oceanografia. Não podemos esquecer a área da saúde, na qual Itabuna é um importante polo de serviços, além dos cursos voltados para o meio ambiente.

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fonte:ciadanoticia

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